sábado, 12 de junho de 2010

"FODAM-SE" (enviado por um grande amigo e homem competente)

Aos que já conhecem, desculpem-me: "fodam-se!", mas acho perfeita esta pérola do Millôr Fernandes....

A vida sem palavrões é impossível
por Millôr Fernandes

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional a quantidade de "foda-se" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se"?

O "foda-se" aumenta a auto-estima, torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta.

Não quer sair comigo? Então "foda-se".

Vai decidir essa merda sozinho (a)? Então "foda-se".

O direito ao "foda-se" deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática.

A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho" , mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo".

O "Não, não e não ! tampouco é nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "não, absolutamente, não!" o substituem.

O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranquila, para outras atividades de maior interesse em sua vida.

Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro para ir surfar no litoral?

Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo: Marquinhos, presta atenção, filho querido, "NEM FODENDO!" O impertinente se manca na hora e vai para o shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma" atendeu plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes , que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.

Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "é PHD porra nenhuma!" ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!"

O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e mais recentemente o "prepone" – presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!" ou seu correlato "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.

Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez no eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçada derivação: "vai tomar no olho do seu cú!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:

"Chega! Vai tomar no olho do seu cu!" . Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor íntimo nos lábios.

Seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar. "Fodeu!", e sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!"

Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação em que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?

Expressão inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa.

Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documento do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você, mandando você parar. O que você fala? "Fodeu de vez!"

Liberdade, Igualdade, Fraternidade e FODA-SE !!!!

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( Lourenço, A.)

" A vida não é sonho mas a realidade pode e deve ser doce!"

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